quinta-feira, 24 de maio de 2012

BOB DYLAN 71 VELAS



Dez discos para decidir como comemorar o aniversário do Mr. Dylan:




“THE FREEWHEELIN’ BOB DYLAN”(1963)
Segundo álbum lançado pelo cantor, foi “Freewheelin’…” que revelou o talento de Dylan para a composição — seu trabalho de estreia tem apenas duas canções originais. O disco abre com nada menos que “Blowin’ in the wind”, talvez seu maior clássico, e traz também “Masters of war” (manifesto antibelicista) e “A hard rain’s a-gonna fall”. Dylan volta a letras recheadas de poesia, lirismo, humor e surrealismo à crítica social e conscientização política. Mas o bardo também versa sobre o amor, como em “Girl from the north country”, canção que seria regravada anos depois no álbum “Nashville skyline”, num dueto com Johnny Cash. “The freewheelin’ Bob Dylan” também tem umas das capas mais célebres produzidas nos anos 60. Mostra Dylan e Suze Rotolo, sua namorada na época, caminhando juntos por Greenwich Village, em Nova York.



“BRINGING IT ALL BACK HOME” (1965)
Dylan extrapola as fronteiras da música folk que o consagrou em seus dois álbuns anteriores (“The times they are a-changin’” e “Another side of Bob Dylan”) e lança um disco metade elétrico, metade acústico. No lado A, canções barulhentas (e até pesadas), como “Subterranean homesick blues”, “Maggie’s farm” and “Outlaw blues”; no lado B, a emblemática “Mr. tambourine man”, “Gates Of Eden” e a tristonha”It’s all over now, baby blue”, espécie de adeus à inocência e às ilusões provocadas pelas relaçoes amorosas e pela juventude. A capa do álbum, desta vez cheia de significados e referências, chama atenção novamente. Com isso, um Dylan maduro começa a despontar, o que provocaria reações negativas por parte da crítica e dos fãs mais puristas. Mas o cantor iria ainda mais longe com a “eletrificação” de seu som em seu trabalho seguinte.





“HIGHWAY 61 REVISITED” (1965)
Com este disco, lançado apenas cinco meses depois de “Bringing it all back home”, Bob Dylan consolida sua transformação de cantor acústico de folk em roqueiro contestador. Aqui o músico é acompanhado por guitarras em todas as faixas — com exceção da épica balada “Desolation row”, última canção do disco, com pouco mais de 11 minutos de duração. O álbum abre com “Like a rolling stone”. Toda executada sobre o órgão base de Al Kooper e com uma letra quilométrica, foi eleita pela revista norte-americana “Rolling Stone” como a “melhor canção de todos os tempos”. “Ballad of a thin man” (potagonizada pelo misterioso personagem Mr. Jones) e “Just like Tom Thumb’s blues” (que versa sobre um anão) também são destaques, juntamente com a faixa-título. Dylan diria em uma entrevista, anos depois: “Não serei capaz de gravar um disco melhor do que aquele. ‘Highway 61′ é simplesmente bom demais.”



“BLONDE ON BLONDE” (1966)
Primeiro álbum duplo da história do rock, “Blonde on blonde” segue na mesma batida dos revolucionários trabalhos lançados em 1965, porém mais experimental, com maior influência do blues (“Pledging my time”, “Leopard-skin pill-box hat”) e, principalmente, das drogas. Bom exemplo disso é o refrão de “Rainy day women # 12 & 35″ (“Todos devem ficar chapados”), um fanfarra debochada gravada aos risos no meio de uma madrugada, e que acabou banida das rádios britânicas e americanas por seu conteúdo altamente lisérgico. O repertório do álbum traz também faixas que se tornaram clássicos do cancioneiro de Dylan, como “I want you” e “Just like a woman” — esta última apontada como uma canção machista e alvo do deboche de Woody Allen no filme “Annie Hall”. É um álbum denso, selvagem e profundo. São paisagens bizarras que Dylan não ousaria pintar novamente em sua discografia.



“JOHN WESLEY HARDING” (1967)
Após um grave acidente de moto que quase lhe custou a vida, em 1966, Bob Dylan embarca numa espécie de autoexílio. Enfurna-se meses num porão com a The Band e, sob forte influência da Bíblia, compõe as primeiras canções do que se transformaria em “John Wesley Harding”, seu sétimo álbum. Influenciado pelo acidente e pela morte do ídolo Woody Guthrie, Dylan deixa de lado o experimentalismo e surrealismo de “Blonde on blonde” para asusmir uma postura mais serena e reflexiva. Aqui as canções têm letras menores e menor duração — pela primeira na carreira, escreveu os versos antes de compor as canções. Os destaques são a faixa-título, inspirada na vida do pistoleiro texano homônimo da época do Velho Oeste; “All along the watchtower”, imortalizada por Jimi Hendrix na melhor versão já feita para uma canção sua, como o próprio Dylan atestaria posteriormente; e “The ballad of Frankie Lee and Judas Priest”, de onde foi retirado o nome da banda de heavy metal Judas Priest.



“BLOOD ON THE TRACKS” (1975)
Em “Blood on the tracks” temos um Dylan angustiado, triste e deprimido pelo fim do casamento com a ex-esposa Sara Lowndes. Mas a crise sentimental acabou transformando-se em combustível para seu processo criativo, tornando o álbum um dos registros musicais mais confessionais de sua carreira. Os lamentos e recordações do relacionamento agora inexistente estão presentes nos versos melancólicos de praticamente todas as faixas. “Ela ainda vive dentro de mim, nós nunca nos separamos”, dispara Dylan em “If you see her, say hello”. Em “Buckets of rain”, é ainda mais explícito: “Tudo sobre você está me trazendo tormento”. Insatisfeito com as primeiras gravações, o cantor surpreendeu até mesmo a gravadora ao decidir refazer algumas faixas. Quem deu um “alô” durante algumas das sessões e quase participou do disco foi Mick Jagger, mas a visita do endiabrado vocalista dos Stones aos estúdios foi breve demais para qualquer tipo de colaboração.



“DESIRE” (1976)
Mal concluiu as gravações de “Blood on the tracks”, Dylan começou a trabalhar em “Desire”. E, pela primeira vez na carreira, divide a autoria da maioria das músicas com outro letrista, o diretor de teatro Jaques Levy — talvez por isso reúna tantas canções com narrativas épicas e cinematográficas. E é o único disco do cantor que conta com um violinista. Ou melhor, a violinista Scarlet Rivera. São dela os fraseados que pontuam “Hurricane”, que marca a volta de Bob Dylan às canções de protesto. A extensa letra conta a história do pugilista negro Rubin Carter, conhecido como “Hurricane” (Furacão). Carter foi preso em 1966, acusado injustamente de um crime que não cometeu. Também são pontos altos do disco os duetos com a cantora Emmylou Harris em “One more cup of coffee” e “Oh, sister”. “Desire” se notabiliza ainda por dois distintos tributos: “Joey”, polêmica homenagem ao gangster Joey Gallo; e “Sara”, sobre a ex-esposa de quem tanto versou em “Blood on the tracks”.



“INFIDELS” (1983)
Considerado por críticos e fãs o melhor registro fonográfio do cantor nos anos 80, “Infidels” foi seu disco mais vendido da década. Aqui o cantor deixa as pregações cristãs fundamentalistas de lado (discurso adotado por conta de sua conversão religiosa nos anos 70) para voltar ao mundo secular. A produção começou a cargo de Mark Knopfler, o virtuoso guitarrista e líder do Dire Straits, mas acabou mesmo nas mãos de Dylan. Foi um disco trabalhoso: muitas horas no estúdio e muito material gravado — boa parte dessas canções acabou limada pelo cantor. Entre músicas de amor (“Don’t faal apart on me tonight”), críticas ao capitalismo (“Union sundown”) e uma apaixonada defesa do estado de Israel (“Neighborhood bully”), ressalvas para a poética “Jokerman”. Seus quase sete minutos de duração trazem uma letra indecifrável, cheia de metáforas e citações mitológicas. A faixa, uma das mais lembradas da carreira do cantor, contou com as participações de Knopfler e do ex-Rolling Stone Mick Taylor nas guitarras. Ganharia ainda um belo videoclipe e uma versão (de gosto duvidoso) gravada ao vivo por Caetano Veloso no álbum “Circuladô vivo”.



“TIME OUT OF MIND” (1997)
Uma década e meia de lançamentos obscuros, período em que o mundo parecia começar a ignorar os trabalhos de um envelhecido e pouco inspirado Dylan, eis que ele ressurge com “Time out of mind”. Solidão, morte e loucura são alguns dos temas visitados pelo cantor em músicas como a longa balada “Standing in the doorway”, o blues “Million miles” e a soturna “Love sick”, que abre o disco (“Estou andando pelas ruas que estão mortas”, diz Dylan no primeiro verso da canção). Mas é “Not dark yet”, que fala sobre decepções e amarguras da vida, que melhor representa o espírito atormentado e o clima claustrofóbico de “Time out of mind”. Coproduzido por Daniel Lanois (U2, Neil Young), traz uma sonoridade ao melhor estilo anos 50. A receita? Uma dúzia de músicos — incluindo dois bateristas — socados dentro de um mesmo estúdio e diversos microfones espalhados, mixados de maneira diferente. Foi disco duplo em vinil e levou três prêmios Grammy em 1998, incluindo o de Álbum do Ano. A nota dissonante do trabalho é a voz de Dylan, que, já sem potência, começa a dar claros sinais de desgaste.



“MODERN TIMES” (2006)
Com canções diretas, recheadas de versos compridos e cantados rapidamente, Dylan reinventou-se neste álbum, misturando rockabilly, country, rock, blues e jazz — seu lançamento motivou mais uma vinda do cantor ao Brasil, em 2008. Compensou sua voz rascante, já bastante debilitada, com uma banda afiada e composições inspiradas, que recheariam a maior parte de seus set lists de 2006 em diante. Em “Modern times”, Dylan abrange temas como amor, realidade e mortalidade. O álbum abre com o blues acelerado “Thunder on the mountain”, com solos de guitarra curtos, ao melhor estilo Chuck Berry; segue com “Spirit on the water”, uma estranha canção no esquema standard americano, bem diferente do que Dylan havia feito até então; e volta ao blues com “Rollin’ and tumblin’” (tradicional canção americana já regravada pelo Cream e por Eric Clapton), carregado no slide guitar. Um álbum fácil de ouvir, e por isso para ser ouvido muitas vezes.

[via ODomingo]

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