“É preciso que os produtores de conteúdo vejam nessa economia do ‘grátis’ uma oportunidade para lucrar indiretamente, saindo da lógica de custo de acesso. O acesso deve ser disponiblizado pelo produtor, senão alguém vai fazê-lo. Somos uma geração que está entrando no mercado e precisa ter uma estratégia para ser notada no meio da multidão. É preciso que as pessoas utilizem o potencial da web para nadar a favor da corrente, enxergando outras formas de receita”
Esses dias estava passando pelo cinema e vi o cartaz de um filme chamado Tropicália, com o rosto dos seus maiores símbolos em destaque e a promessa (em uma frase do cartaz) de revelar a criação do movimento.
Ainda sem data pra estreia, o documentário Tropicália busca contar o que inspirou Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros músicos a produzir extensivamente na época, como foi a gravação do disco coletivoTropicália ou Panis et Circensis, em pleno maio de 1968, e a prisão seguida de exílio em Londres de Caetano e Gil, após a edição do AI-5 (Ato Institucional nº5) em dezembro daquele ano, evento que marca o fim da Tropicália como movimento.
Pelo trailer, a minha grande expectativa pelo filme são as imagens históricas e raras de arquivo de shows e entrevistas. Pelo que me disseram, é de Gal um dos depoimentos mais divertidos. Ela comenta o show em que se apresentou pela primeira vez, com um imenso cabelo black power e cantando Divino Maravilhoso, no qual, segundo ela, "metade da plateia vaiava e metade aplaudia".
Ainda tem Tom Zé, Jorge Mautner, Hélio Oiticica, Glauber Rocha, Sergio Mendes, enfim, a cambada toda.
Escolha uma vida. Escolha um emprego. Escolha uma carreira – escolha uma família. Escolha a porra de uma TV grande! Escolha uma máquina de lavar, carros, discman, abridor de latas eletrônico. Escolha uma boa saúde, baixo colesterol, plano de saúde dentária. Escolha parcelas fixas para pagar. Escolha uma casa – escolha seus amigos. Escolha roupas, acessórios. Escolha um terno feito do melhor tecido. Escolha bater uma punheta num domingo de manhã pensando nessa merda de vida. Escolha sentar no sofá pra ficar vendo programas de auditório. Comer um monte de porcaria e acabar apodrecendo. E no fim do caminho escolha uma família e filhos que vão se envergonhar de você por causa desse sentimento egoísta de que você o pôs no mundo pra substituí-lo. Escolha o seu futuro. Escolha a vida.
Por que eu iria querer algo assim?
Eu escolhi ‘não escolher a vida’. Eu escolhi uma outra coisa.
E os motivos? Não há motivos.
Quem precisa de motivos quando se tem heroína?
[do livro Trainspotting de Irvine Welsh, adaptado pro cinema pelo Danny Boyle]
Classroom Portraits, é o que o nome diz, fotos dos alunos em suas salas de aula, um ensaio do fotógrafo Julian Germain em exposição no Nederlands Fotomuseum.
Fui no lançamento do novo filme do Claudio Assis e mais uma vez ele expressa sua poesia visual do mel pernambucano. Febre do Rato tem uma diferença particular pra mim. É esse Pernambuco que eu conheço e recordo com afeto. Pernambuco pra mim é um licor. Segundo o diretor, esse novo filme é uma resposta aos críticos que lhe chamaram de violento e gratuito. “Vocês não queriam que eu contasse as histórias de forma diferente? Estou fazendo poesia. É isso que eu sou, um poeta. Agora vão ter que me engolir.”
Em uma recente entrevista Claudio não poupou seus comentários mais agudos. Para o cineasta, violência é permitir a veiculação em nível nacional de um filme como E aí... Comeu?, de Felipe Joffily. “É isso que está educando a sociedade? Isso é nojeira, excrescência, escraviza o olhar. Esse povo [cineastas] é desnecessário.”
E não poupa a produção de cinema nacional. “O cinema é feito por babacas, muito pior do que filhos da puta. Tem muita coisa boa sendo produzida no Ceará, em Pernambuco, mas sem acesso. Não faço cinema pra comprar um apartamento na Avenida Vieira Souto, no Rio. Cinema não é vender Coca-Cola".
E eu aqui fico sorrindo com a beleza da existência do Claudio Assis.
Existe um livro muito conhecido, e que marcou a geração beatnik nos EUA, que se chama “On the Road”. O autor é Jack Kerouac e o livro é um marco na cultura americana.
Existe um disco da Timbalada, que eu não sei se ainda pode ser encontrado nas lojas, mas que se chama “Andei Road”. A idéia foi de Carlinhos Brown e eu adoro falar desse caso porque tenho um fascínio imenso pela língua portuguesa falada no Brasil e pela incrível capacidade que nós brasileiros tivemos de ampliar seu uso.
Pois é disso que fala o documentário dirigido por Helena Solberg, “Palavra Encantada”. A diretora ouviu o depoimento de artistas consagrados como Chico Buarque, Adriana Calcanhoto, Lenine, Arnaldo Antunes, demonstrando a relação de proximidade que a música e a literatura têm no Brasil.
Poesia, sons, a origem nos trovadores. Os repentistas, as batalhas de rap. A bossa nova, o tropicalismo. O filme soube enriquecer a discussão sobre o tema registrando pontos de vista de artistas tão diferente quanto Maria Bethânia e Black Alien. Como Martinho da Vila e Tom Zé. Esse, por sinal, fazendo intervenções incríveis e quase sempre bem humoradas.
A identidade brasileira é um assunto interessantíssimo, pois sua discussão ainda se dá enquanto ela ainda passa por transformações. O filme mostra o quanto nossa cultura é incrivelmente nova e diferente em qualquer comparação feita com culturas do velho mundo.
Palavra Encantada, de Helena Solberg. Destaque para as intervenções do vocalista da banda Cordel do Fogo Encantado. O moço declama uma poesia de repentista que fala sobre o mar. Vale à pena decorar.
1 -Fixe seu olhar no ponto vermelho no nariz da garota por 30 segundos.
2 - Vire seus olhos para uma superficie plana, o teto ou uma parede vazia.
3 - Pisque os olhos várias vezes rapidamente ao mesmo tempo em que olha para o teto ou parede.
Talvez eu esteja começando a não me importar
se eu viajo ou não
ou se eu ganho prêmos
ou se sou publicado.
Talvez eu esteja começando a não me importar
sobre semântica, semiótica e simbolismo.
Talvez eu esteja começando a ficar entediado
pela atenção e sempre tentar ser correto.
Talvez a luta não seja mais dentro de mim.
Talvez eu esteja começando a não me importar
sobre saber tudo
que se torna algo
antes de alguém saber que aquilo é qualquer coisa.
Talvez eu esteja começando a imaginar
se isso aqui
faz alguma diferença,
ou se eu só estou
andando em círculos,
ou talvez, apenas talvez,
eu esteja começando a ver a luz.
"A criança é criativa porque é crescimento e se cria a si própria. É como um rei, porque impõe ao mundo as suas ideias, os seus sentimentos e as suas fantasias. Ignora o mundo do acaso, pré-elaborado, e constrói o seu próprio mundo de ideais. Tem uma sexualidade própria. Os adultos cometem um pecado bárbaro ao destruir a criatividade da criança pelo roubo do seu mundo, sufocando-a com um saber artificial e morto, e orientando-a no sentido de finalidades que lhe são estranhas. A criança é sem finalidade, cria brincando e crescendo suavemente; se não for perturbada pela violência, não aceita nada que não possa verdadeiramente assimilar; todo o objecto em que toca vive, a criança é cosmos, mundo, vê as últimas coisas, o absoluto, ainda que não saiba dar-lhes expressão: mas mata-se a criança ensinando-a a ater-se a finalidades e agrilhoando-a a uma rotina vulgar a que, hipocritamente, se chama realidade."
Homem é bobo mesmo – é fácil ouvir um montão de mulheres por aí bradarem essa máxima. E o pior é que, na presença delas, eles realmente são. “Dois testes, nos quais participantes interagiram com alguém do mesmo sexo ou do sexo oposto, demonstraram que a capacidade cognitiva do homem (mas não a da mulher) cai logo após uma conversa com o sexo oposto”, conta um estudo de pesquisadores da Universidade de Radboud, na Holanda. E, quanto mais atraente o cara considera a mulher em questão, maior o efeito dessa confusão mental – que é temporária e passa alguns minutos após o contato com a bonitona. É que, lembram os cientistas, os homens são mais motivados pelo acasalamento do que a mulher. São, por exemplo, mais propensos a procurar por sinais de interesse sexual no comportamento feminino e a superestimar o interesse dela numa conversa. O que, na hora da interação, dá uma embaralhada nos pensamentos e os deixa biologicamente confusos.
Em tempo: o estudo só examinou essa questão entre heterossexuais. “Entretanto, uma questão interessante para pesquisas futuras seria se, entre homossexuais, interações com pessoas atraentes do mesmo sexo seriam mais exigentes cognitivamente”. A ver.
Uma das coisas mais aterradoras que vi nos últimos tempos foram as imagens de esculturas de um chinês chamado Liu Xue, num facezine. O curioso é que, nem mesmo em inglês, consegui achar alguma coisa sobre ele, sobre a sua arte. Mas, sabe, até eu entendo. Não dá vontade de falar nada, não. Há três dias que olho para as figuras bizarras, meigas, e ainda não tive ânimo de ir buscar meu queixo caído no chão.
“Eu tinha vontade de sair e encontrar – como numa odisséia, onde eu iria pra minha casa em algum lugar. Eu meio que sentia que estava indo encontrar essa casa que eu havia deixado pra trás há muito tempo e não conseguia lembrar exatamente do caminho, mas eu estava indo. E encontrar o que eu encontrei pelo caminho foi como eu tinha visualizado tudo. Na realidade eu não tinha ambição alguma. Eu simplesmente nasci muito longe de onde supostamente deveria estar e portanto eu estou no meu caminho pra casa.”
Bob Dylan, em NO DIRECTION HOME de Martin Scorcese.
[...] Só não conseguiu livrar-se do medo das mulheres. Ele as desejava mas elas o amedrontavam. Entre o medo e o desejo era preciso encontrar um acordo; era o que ele chamava “a amizade erótica”. Afirmava a suas amantes: só uma relação isenta de sentimentalismo, em que nenhum dos parceiros se arrogue direitos sobre a vida e a liberdade do outro, pode trazer felicidade para ambos. [...]
Compondo a programação de um domingo qualquer, resolvi assistir o documentário dirigido por Carlos Nader, “Pan Cinema Permanente”, um registro da história de vida e poesia do baiano, Waly Salomão.
Waly nasceu em Jequié, interior do estado. É filho de pai sírio e formado em direito – apesar de nunca ter exercido a profissão. Após a faculdade se mandou para o Rio de Janeiro – sempre o Rio de Janeiro – e tropeçou em trancos e em barrancos para se afirmar como um poeta.
O que mais me chamou atenção foi a coragem do artista de viver sua vida segundo as próprias regras. Vivendo personagens de si mesmo, a vida pra ele era uma ficção permanente. Ele era capaz de se reiventar e de se comportar como quisesse. Caetano Veloso o classificou como “excessivo”, mas não sem confessar a imensa saudade do amigo perdido – que faleceu em 2003.
O documentário é uma colcha de retalhos construída a partir de imagens captadas pelo diretor durante a longa convivência com o poeta. O jogo de imagens provoca um efeito caleidoscópico que se envolve na exibição dos poemas de Waly.
Todo astrônomo amador sabe que, em alguns bilhões de anos, a Via Láctea e a galáxia de Andrômeda (quem diria, logo a do Shun, que não matava nem mosca), que se movem pelo espaço em direções contrárias, vão se chocar. Alguns cientistas tentaram simular uma possível consequência deste choque, previsto para uns 6 bilhões de anos. Que pena que eu não estarei aqui. Vai ter um céu muito doido, se eles estiverem certos.
O vídeo mostra como algumas cidades desenvolveram políticas que desestimularam o uso frequente do carro e criaram uma cultura ciclista. Tenho visto cada vez mais amigos, em Salvador e outras cidades do Brasil, aderindo à bicicleta. Aqui, na capital baiana, em que o clima, a violência, a topografia parecem ser inimigas das duas rodas, Camilo Fróes, repórter do programa Mê de Música, tem mostrado que não é bem assim, em seu diário de ciclista urbano.
Pra quem não se lembra do Laerte antes da sua transfiguração de gênero, aqui um trecho do documentário "Malditos Cartunistas", de Daniel Garcia e Daniel Paiva, que mostra um panorama sobre a profissão de desenhista de humor no Brasil.
Já tinha reparado nisso. Um passeio pelo imdb e fica tudo claro. Mas a equipe do 22 Words reuniu tudo em grupos, revelando os clichês em posters de filmes.
1. Cabeças grandes no céu sobre pessoas pequenas na praia.
Alexis Wanneroy dirige o curta Innocent, in a way em que o artista espanhol Alberto Mielgo fala sobre seu trabalho com pinturas de mulheres nuas, e as questões de censura em que seus quadros ficaram envolvidas. Em certo momento Mielgo pergunta "Por que minhas pinturas são chocantes? São apenas garotas relaxadas... nuas, tranquilas, mostrando suas vaginas. Mas o que é a vagina, cara? Senão a ferramenta mais importante da vida?"
Pavol Durov, milionário CEO da VKontakte, rede social mais popular da rússia, estava entediado e resolveu atirar alguns aviõezinhos feitos com notas de cinco mil rublos, cerca de R$ 300,00 da janela da companhia.
Saiu o pôster e trailer do novo filme do Fernando Meirelles. 360 fala de cruzamentos entre vários estratos sociais, com casais que mantêm relações sexuais dentro e fora de suas classes. A inspiração do roteirista Peter Morgan é a peça Ronda (Reigen), do dramaturgo austríaco Arthur Schnitzler, publicada em 1897. A controversa obra já virou filme algumas vezes; o mais famoso talvez seja o francês Conflitos de Amor (La Ronde), que Max Ophüls dirigiu em 1950.
Os desenhistas Pedro Leite e Rafael Koff mantêm o ótimo Tirinhas do Zodíaco, feito especialmente para quem curtiu a saga, em meados dos anos 1990. Os autores compilaram o melhor do blogue em um livreto, por enquanto esgotado, mas que em breve deve ter uma segunda tiragem. Enquanto ela não vem, vale conferir uma amostra generosa do que tem nele lá no site. As minhas preferidas:
Há duas semanas, a revista CartaCapital publicou, na sua coluna de crônicas e relatos, a impressionante história sobre mulheres escalpeladas por acidentes com barco na região Norte, que fundaram a Associação de Mulheres de Ribeirinhas e Vítimas de Escalpelamento da Amazônia (AMRVEA), onde lutam para que novos acidentes deste tipo sejam evitados e para que o SUS as ajude a recuperar a auto-estima, por meio de cirurgias plásticas (o que já está ocorrendo). É fantástico o modo como, sem ajuda externa, nem ajuda interna de especializados, elas conseguiram se reunir e ajudar-se umas às outras na superação do trauma. Leia a seguir alguns trechos da matéria:
O escalpelamento é um acidente comum na Amazônia, onde o uso de barcos sem proteção adequada permite que passageiros prendam os cabelos no eixo dos motores e sofram lesões graves no couro cabeludo. Levantamento da Defensoria Pública da União (DPU) realizado na Região Norte aponta 294 casos até fevereiro de 2012. O Pará lidera com 196 acidentes, seguido pelo Amapá, com 96.
(...)
"O acidente retira o foco dessas pessoas, que passam a viver para superar as consequências do ocorrido". Entre elas, o preconceito e o abandono da própria família, como ocorreu com Maria Trindade Gomes, de 43 anos, uma das criadoras da AMRVEA. Ela relata ter sido deixada pelos pais em um hospital, após sofrer o acidente aos 7 anos. "Precisava ir a Belém, mas meu pai disse que não gastaria dinheiro com cadáver". Maria Trindade foi enviada a um hospital militar na capital paraense, onde ficou internada por seis anos. A primeira cirurgia reconstrutora da face, lembra, ocorreu apenas aos 25 anos. Foram 32 operações somente no lado esquerdo do rosto. "As cicatrizes são o símbolo de uma luta", diz em referência ao trabalho para viabilizar as cirurgias.
É oficial: O escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, 84 anos, foi escolhido pelo Senado como “candidato oficial” do Brasil ao prêmio Nobel de Literatura. Saiba os detalhes aqui.
A revista canadense Vice publicou ensaio da fotógrafa Emma Arvida Bystrom focado na menstruação. O resultado é muito bacana, e o ensaio completo, você confere aqui.
O que Jeroen Berkevens pensava era se ele conseguiria destrinchar os mistérios da curta e creativa vida do poeta/cantor Nick Drake, em um documentário que fosse ao mesmo tempo para os fãs mais ardorosos até os mais ordinários. Pois se ele não conseguiu iluminar as obsessões e idiossincrasias de Drake - e até que ponto um documentário deveria fazer isso - ele compôs um filme belíssimo sobre um dos mitos da canção britânica.
Pra completar, um fã brasileiro legendou as quatro partes do doc. Tá bonito.
E não é que a maior obra de auto-ajuda em vídeo, feita pela DM9DDB (em português, com locução de Pedro Bial), estava certa? Usar filtro solar é importante para aqueles que, como apontou Calligaris, adotaram a concepção moderna de que a vida precisa ser alongada, ao contrário, por exemplo, das pessoas da Idade Média, que criam grandioso morrer por uma causa.
A foto do post é de um caminhoneiro que, durante anos, tomou sol desproporcionalmente, deixando um lado do rosto bem mais exposto que o outro. Deu no Gizmodo.
