quarta-feira, 6 de junho de 2012

A IMPRESSIONANTE LUTA DAS RIBEIRINHAS ESCALPELADAS



Há duas semanas, a revista CartaCapital publicou, na sua coluna de crônicas e relatos, a impressionante história sobre mulheres escalpeladas por acidentes com barco na região Norte, que fundaram a Associação de Mulheres de Ribeirinhas e Vítimas de Escalpelamento da Amazônia (AMRVEA), onde lutam para que novos acidentes deste tipo sejam evitados e para que o SUS as ajude a recuperar a auto-estima, por meio de cirurgias plásticas (o que já está ocorrendo). É fantástico o modo como, sem ajuda externa, nem ajuda interna de especializados, elas conseguiram se reunir e ajudar-se umas às outras na superação do trauma. Leia a seguir alguns trechos da matéria:


O escalpelamento é um acidente comum na Amazônia, onde o uso de barcos sem proteção adequada permite que passageiros prendam os cabelos no eixo dos motores e sofram lesões graves no couro cabeludo. Levantamento da Defensoria Pública da União (DPU) realizado na Região Norte aponta 294 casos até fevereiro de 2012. O Pará lidera com 196 acidentes, seguido pelo Amapá, com 96.

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"O acidente retira o foco dessas pessoas, que passam a viver para superar as consequências do ocorrido". Entre elas, o preconceito e o abandono da própria família, como ocorreu com Maria Trindade Gomes, de 43 anos, uma das criadoras da AMRVEA. Ela relata ter sido deixada pelos pais em um hospital, após sofrer o acidente aos 7 anos. "Precisava ir a Belém, mas meu pai disse que não gastaria dinheiro com cadáver". Maria Trindade foi enviada a um hospital militar na capital paraense, onde ficou internada por seis anos. A primeira cirurgia reconstrutora da face, lembra, ocorreu apenas aos 25 anos. Foram 32 operações somente no lado esquerdo do rosto. "As cicatrizes são o símbolo de uma luta", diz em referência ao trabalho para viabilizar as cirurgias.

A associação, fundada há quase seis anos, atua como intermediária da defensoria informando às vítimas os passos para receber apoio. No local de paredes rosa, o símbolo do sexo feminino usa lenço na cabeça e as mulheres se reúnem. "Somos as psicólogas umas das outras", afirma Maria do Socorro Pelaes, de 30 anos, uma das fundadoras da casa, que também advoga por indenizações aos 117 associados.


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Casada há dez anos e com quatro filhos, aos risos relata ter enfrentado mais problemas para conseguir um trabalho que um companheiro. Por isso, pensa em construir uma escola infantil para empregar as associadas que cursam Pedagogia. Por ironia, vieram das escolas dos filhos as demonstrações de preconceito. "Perguntaram se meu filho não tinha medo de mim, mas explico a eles que cabe aos pais ensinar o respeito aos outros".

Pouco antes da cirurgia, Maria do Socorro diz-se tranquila e revela o maior desejo após a recuperação. "Passar em frente a um colégio de criança, porque ainda não consigo. Vou andar de cabeça erguida".

Ler na íntegra.

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