terça-feira, 9 de abril de 2013

JAMES WOOD SOBRE PHILIP ROTH



Alguém acreditou em Philip Roth quando (…) ele anunciou que estava se aposentando? De todos os romancistas contemporâneos, é ele quem fez a escrita parecer um ato necessário e contínuo, inseparável das continuidades e batalhas de estar vivo. Para Roth, a narração e a individualidade parecem ter nascido juntas; portanto, precisam morrer juntas também. Mais do que qualquer outro romancista moderno, ele usou a ficção como confissão e deslocamento da confissão: seus rabugentos, reclamões e alter egos, de Portnoy a Zuckerman e Mickey Sabbath, parecem todos rothianos, mesmo quando apenas atuam como substitutos do autor. Ele tornou sua infância em Newark, seus pais amorosos e irritantes, seu judaísmo, sua sexualidade, sua própria vida de escritor familiares e vívidos para milhões de leitores. Parecia precisar da ficção como uma espécie de incansável relatório performativo, e por essa razão, nos últimos anos, grandes romances (‘O teatro de Sabbath’, ‘Pastoral americana’) dividiram espaço com obras muito mais fracas e ele foi tão profícuo – a ficção ao mesmo tempo urgente e um tanto agressiva, tão necessária quanto a arte e tão desesperançada quanto a vida.

Admiro Roth (…) por muitas razões. Porque ele não permaneceu igual (sua prosa despojada é hoje muito diferente das cadências esmeradas de seu trabalho da juventude). Porque essa prosa é um instrumento maravilhoso, capaz de surpresas líricas e da simplicidade mais crua, ao mesmo tempo altamente elaborada e derramadamente oral. Porque ele é muito engraçado (pense naquele momento de ‘O escritor fantasma’ em que Nathan Zuckerman se imagina contando aos pais que fez a coisa certa, como um bom rapaz judeu, ao se casar com Anne Frank, que sobreviveu magicamente ao Holocausto). E porque ele demonstrou que o artificialismo pós-moderno e o realismo americano, em vez de serem incompatíveis, na verdade alimentam-se um ao outro – aquele que é talvez seu maior romance, ‘O avesso da vida’, toma emprestado o que julga necessário da autoconsciência pós-moderna e seus jogos ficcionais para armar uma investigação sobre o que significa ter uma vida. Que possa nossa perpétua máquina de escrever continuar perfurando o poço da página até que, como ocorreu com Henry James, tenham que lhe arrancar a caneta da mão moribunda.


A derramada declaração de amor acima (em inglês aqui), do crítico inglês James Wood ao escritor americano Philip Roth, faz parte de um ensaio que integra o novo livro do primeiro, o recém-lançado The fun stuff and other essays. Será que Roth cumprirá a promessa de nunca mais escrever? Wood está na fase da negação.

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