quinta-feira, 25 de outubro de 2012

ALBERTO PIMENTA É FILHO-DA-PUTA


Alberto Pimenta nasceu no Porto, em 1937. Seu trabalho poético abrange e espraia-se por livros, poemas visuais e performances desde a década de 70. Estreou com o livro O labirintodonte, publicado em 1970, em Lisboa, quando Pimenta lecionava na Universidade de Heidelberg, cargo que assumiu em 1960, contratado pelo governo português, que o demitiria em 1963 por sua oposição ao regime fascista do país. O poeta permaneceria na Alemanha a convite da universidade até retornar a Portugal em 1977. Neste mesmo ano, publica o livro Ascensão de dez gostos à boca, realiza sua lendária performance/happening "Homo sapiens", trancando-se em uma jaula no Jardim Zoológico de Lisboa, e lança seu livro mais conhecido e traduzido, o Discurso sobre o filho-da-puta.

Veja/leia mais sobre Alberto Pimenta.



"Discurso sobre o filho-da-puta" 

O pequeno filho-da-puta
é sempre
um pequeno filho-da-puta;
mas não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,

diz o pequeno filho-da-puta.

no entanto, há
filhos-da-puta que nascem
grandes e filhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho-da-puta.
de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o pequeno filho-da-puta.

o pequeno
filho-da-puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno
filho-da-puta.

no entanto,
o pequeno filho-da-puta
tem orgulho
em ser
o pequeno filho-da-puta.
todos os grandes
filhos-da-puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno
filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

dentro do
pequeno filho-da-puta
estão em ideia
todos os grandes filhos-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.
tudo o que é mau
para o pequeno
é mau
para o grande filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

o pequeno filho-da-puta
foi concebido
pelo pequeno senhor
à sua imagem
e semelhança,
diz o pequeno filho-da-puta.

é o pequeno filho-da-puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.
de resto,
o pequeno filho-da-puta vê
com bons olhos
o engrandecimento
do grande filho-da-puta:
o pequeno filho-da-puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho-da-puta.




[via Modo de Usar]

Um comentário:

  1. Sensacional!! Esse poema deveria ser lido como um hino em todos os grandes eventos corporativos. Hahahaha... ia ser demais!!

    ResponderExcluir